Mestre & Discípulo

ESCLARECIMENTOS
Após anos treinando o Karate Yobukan, minha mulher resolveu aprender Yôga. Isso aconteceu através do convite feito pela namorada de um dos nossos faixas pretas. Então comecei a dar uma “olhadinha” nos livros do Mestre DeRose e fui descobrindo que temos muitas coisas em comum. Inclusive o próprio DeRose treinou karate nos velhos tempos. Assim sendo faço minhas as suas palavras. Penso que se eu escrevesse a respeito dos discípulos, meus alunos pensariam que seria uma coisa pessoal, e tendo sido escrito pelo Mestre DeRose, que não pertence ao nosso grupo, meus alunos entenderiam melhor. Espero que mediante uma metáfora vocês possam compreender melhor a dinâmica de relacionamento no nosso Karate & Auto-Defesa Yobukan.

Tudo o que está escrito abaixo foi tirado do livro YÔGA: MITOS E VERDADES escrito pelo Mestre DeRose.

HERANÇA CULTURAL DO SWÁSTHYA YÔGA
Ninguém vive para sempre. Portanto, é bem possível que neste justo momento em que você está lendo sobre a minha vida, eu já não a esteja vivendo.
Por outro lado, que circunstância emocionante! Você estar conversando comigo depois de eu já ter passado para o outro lado! Isso é uma grande vantagem, pois, assim, posso estar bem aí ao seu lado, dialogando efetivamente com os seus pensamentos. Já imaginou? Poderemos comunicar-nos por via direta muito mais facilmente.
Mas talvez eu ainda esteja no corpo físico enquanto você conclui a leitura deste livro. Nesse caso, gostaria muito de poder contar com a sua simpatia e apoio no momento em que ainda preciso disso e no qual ainda posso agradecer. Não faça como tanta gente que espera os outros morrerem para, então, louvá-los. Apoie-me agora!
O Yôga me proporcionou muita vitalidade, contudo, tenho consciência de que esmerilhei a saúde para desempenhar a missão que assumi. Como doava ao Yôga tudo o que ganhava nos primeiros vinte e cinco anos de trabalho, passei todo esse tempo sem ter casa. Sem casa, precisei comer na rua todos esses anos, conseqüentemente, alimentei-me mal.
Para piorar o desgaste, viajei incessantemente, dando aulas em praticamente todas as Universidades Federais e Católicas do extremo Sul ao extremo Norte do Brasil. Ainda viajei quase todos os anos para a Índia e Europa, sempre em missão.
Nessas duas décadas e meia não tive férias e trabalhei cada sábado, domingo e feriado.
Mantive a tensão sob controle com as técnicas anti-stress do Yôga, mas tudo tem um limite. Tive consciência o tempo todo de que estava comprometendo a expectativa de vida. Porém, tinha que ser assim. Não vai aqui nenhuma queixa. Estou feliz e, se precisasse, faria tudo outra vez. Quiçá, com mais experiência, errasse menos…
Gostaria que este capítulo fosse meu testamento público, não de bens, mas de idéias. Nos nossos livros e vídeos deixei exaustivamente claras as minhas posições, princípios, aspirações, lutas, receios, desaprovações e assim por diante. Nada me deixaria mais desgostoso do que ver pessoas fazendo o oposto daquilo que preconizei, sob a justificativa de estarem seguindo minhas propostas. Se reconhecerem que não gostam do autor ou do seu método está bem, afinal respeito a liberdade de pensamentos e é impossível agradar à humanidade inteira. O que repudio é alguém declarar-se discípulo e simpatizante, porém agir ou falar em desacordo.
Também seria muito triste tais supostos discípulos deturparem meus ensinamentos, falsificarem meus textos ou até brigarem entre si, sob o pretexto da lealdade. Isso já aconteceu com todos os agrupamentos humanos, fossem eles religiosos, filosóficos, políticos, esportivos, empresariais. Ocorreu até mesmo com o Swásthya, estando eu vivo. Por excesso de zelo, alguns discípulos de Portugal quase transformaram nossa obra em uma ideologia fanática. Acho que confundiram minha posição categórica com uma postura intolerante.

O QUE EU ESPERO DE VOCÊ
1. Espero que você não se deixe manipular ou doutrinar por ninguém e, certamente, nem por mim. Não desejo convencê-lo de coisa alguma. Estou apenas expondo pontos de vista. Se você sintonizar com eles, caminharemos juntos. Caso contrário, cada um de nós seguirá o seu caminho.
2. Se você escolher trilhar comigo, espero que não se deixe seduzir pelo misticismo, por seitas, nem pela misturança com outras ciências, artes, filosofias, estudos, ideologias, tampouco pelos demais tipos de Yôga. Que respeite e perpetue a pureza da nossa estirpe. Vá fundo, mergulhe de cabeça, seja leal, dedique-se a uma coisa só. Não misture com mais nada. Não estou interessado em quem ainda está na fase da busca. Um buscador não é um “achador”. Ele se diverte e satisfaz-se com a fruição da busca em si. Achar, seria um estraga-prazeres, pois interromperia o divertimento. Busca hoje aqui, amanhã ali, depois acolá. Não se pode confiar nesse tipo de gente. Quero pessoas que não sintam a compulsão neurótica de buscar, buscar, buscar. Quero gente que tenha se encontrado no Swásthya e que isso seja definitivo.
3. Espero que você tenha flexibilidade e reflexo suficientes para me acompanhar nas minhas guinadas, quando forem necessárias mudanças de rumo. Se vamos dançar juntos, não fica bem eu dar um giro e você ficar parado, duro, no mesmo lugar.
4. Espero que você entenda o quanto é importante neste momento histórico, divulgar e ensinar o Swásthya Yôga, bem como preparar mais pessoas para que venham a se tornar instrutores sob a minha supervisão direta, já que fui eu quem sistematizou o método. É importante o efeito multiplicador, a reação em cadeia para fazer crescer a nossa família até que chegue a um nível ótimo de estabilidade, isto é, que a coisa flua sozinha e sem esforço, a fim de que as próximas gerações não precisem lutar e trabalhar tanto quanto os pioneiros, os quais, afinal, sacrificaram-se excessivamente. Quando atingirmos esse ponto, será necessário saber parar de crescer para não desvirtuar a qualidade. A partir daí passará a ser prioridade investir ainda mais esforços para o aprimoramento técnico, cultural, ético e recreativo.
5. Espero que você (sendo praticante ou instrutor) tenha a combatividade necessária para defender o nosso método de Yôga, energicamente, sempre que for preciso. Entretanto, para isso, aplique a elegância, a educação e a cultura. Essas três forças devem ser empunhadas com uma potência avassaladora.
6. Espero que você seja, ou torne-se, uma pessoa de excelente cultura, que tenha, ou adquira, uma ótima aparência pessoal e ascenda constantemente na escala social. Saúde, alegria, excelente lay-out e sucesso na vida, são fatores fundamentais para que você se revele um bom representante do nosso recado.
7. Espero que você saiba distinguir: Swásthya Yôga é o método, e Uni-Yôga é uma entidade à qual você poderá estar filiado ou não. Você pode não estar pertencendo aos quadros da União Nacional de Yôga e, contudo, estar praticando ou ensinando o Swásthya. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Se você for instrutor, tem um Supervisor. Há compromissos de honra, contrato legal e deveres morais entre você e ele. Mesmo que não esteja filiado à União, seus compromissos e deveres com o Supervisor permanecem vigendo e precisarão continuar sendo honrados.
8. Espero que entre os instrutores do nosso método de Yôga e entre os membros da Uni-Yôga jamais ocorram disputas, concorrência, inveja, intolerância ou desunião, como temos visto no ambiente de outros tipos de Yôga ou de outras instituições. Ninguém é obrigado a gostar de todo o mundo, portanto, se você não simpatizar com algum companheiro, mantenha em relação a ele uma distância cordial, mas nunca o antagonize. A força está na União; na separação, a fraqueza. Nós venceremos nossos opositores por eles disputarem entre si, enquanto nós nos apoiávamos uns aos outros. Jamais hostilize um colega de Swásthya Yôga. Todos têm alguma virtude. O importante é saber garimpá-la.
9. Por outro lado, não se deixe iludir pelos que quiserem fazer-se passar por gente nossa. O fato de ensinar o nosso método não significa que seja simpatizante ou que esteja engajado conosco. Pergunte-se sempre: um instrutor que seja realmente amigo, aliado, que goste de nós como alardeia, por que não está associado conosco na União Nacional de Yôga?
O que mais existe são pessoas que declaram: “Mestre, eu estou sempre com você, participando à distância, e sempre lhe apoiei”. Mentira! Não estão comigo nem me apóiam. Se nossa Obra dependesse delas, não existiria mais. Se eu dependesse delas para viver, teria morrido de fome. Não contribuem com coisa alguma. Dizem-se meus amigos, mas não concordam comigo, não compreendem o valor do nosso trabalho, nem gostam de mim o suficiente para querer participar da União Nacional de Yôga; não contribuem com a Supervisão; e não comparecem aos cursos e eventos. São falsos e hipócritas!
Sei que quando eu faltar, muitos dos que me traíram, perseguiram, excluíram, difamaram e execraram, vão querer lucrar em cima do Swásthya e da Uni-Yôga, tal como as tantas pessoas que reconhecem que o nosso é o melhor método de Yôga, mas não admitem retribuir com o devido reconhecimento ao seu sistematizador e declaram: “O Swásthya Yôga é excepcional, mas o DeRose eu não aceito: ele é brasileiro”!
Já imaginou se a União viesse a cair nas mãos justamente dos que a combateram?
Bastaria você e os demais não estarem atentos a estas advertências e recomendações.

DISCÍPULOS E INDISCÍPULOS
Existem vários tipos de discípulos e diversas fases no discipulado de cada um. Contudo, há procedimentos mais freqüentes que eu gostaria de comentar. É oportuno lembrar que discípulo não é o aluno comum e sim o instrutor formado, o qual é forçosamente supervisionado por um Mestre. Por extensão, pode ser considerado como discípulo o estudante veterano, absolutamente leal e comprometido com a proposta do Mestre. Fora isso, todos os demais são considerados apenas alunos e não discípulos. Mas também tem alguns que, na realidade, são é indiscípulos!

QUE TIPO DE DISCÍPULO É VOCÊ?
Freqüentemente as pessoas julgam-se a si mesmas com condescendência. Será que aos olhos do seu Mestre você é o tipo de discípulo que supõe ser? Você se importa? Se você se importa com a imagem que possa ter perante o seu Supervisor e esforça-se para melhorar, escreva ao seu mestre informando em que tipo de discípulo você acha que se enquadra. Se você não escrever é sinal de que não se importa. Ou, quem sabe, importa-se tão pouco que nem chegou a registrar esta solicitação.

O DISCÍPULO QUE NÃO ASSUMIU O MESTRE
É aquele que leu o livro Yôga, Mitos e Verdades, não concordou porém, fingiu que sim. Leu o Contrato de Supervisão, não prestou atenção, mas declarou que não havia dúvidas e os assinou. Não deu importância à cerimônia de Confirmação com o Mestre e prometeu que cumpriria os compromissos, apesar de não ter a intenção de cumprir coisa alguma. Leu o texto Um Tranco do Mestre, e discordou das colocações.
Este é o tipo de discípulo que desobedece as recomendações do Mestre, ministra uma interpretação do Swásthya Yôga de autenticidade duvidosa, incompleta, truncada e distorcida. Constantemente tem um comportamento espiritualista ou alternativo. É anarquista ou festivo na maneira de tratar o Yôga. Não é profissional. Costuma não pagar a taxa de supervisão. Ou, então, engana-se sobre o valor devido na contribuição. Ou contribui de forma irregular. Aliás vive enganando-se em tudo. Flagrado, pede desculpas, diz que o fato não se repetirá, mas continua “esquecendo-se”, “enganando-se” e “não entendendo”…
Pela frente, chama “querido Mestre”, sorri e paparica. Por trás, faz o que quer, descumpre, mescla, distorce. Costuma fazer outros cursos apócrifos, não-pertinentes e não-autorizados; freqüenta outras instituições que nada tenham a ver com a nossa linhagem e mistura tudo, embora negue estar misturando. Não raro, relaciona-se com nossos opositores. Pelas costas do Mestre diz que não concorda com ele nisto ou naquilo.
Em geral, não forma instrutores. Quando os forma, são indisciplinados. Não ajuda o crescimento do Swásthya Yôga nem o da União Nacional de Yôga. Não os sente como sendo seus e sim como algo que pertence ao DeRose. Tem medo de concorrência dos seus próprios alunos e dos demais companheiros da União.
Ao ler estas linhas, vai pensar que não é com ele. Que ele não se enquadra nesta descrição.
Pergunto-me se não seria melhor não tê-lo como discípulo! Pois tê-lo e nada, dá na mesma.

O DISCÍPULO DURÃO
Ele leu muito bem todos os nossos livros para descobrir as contradições e para poder criticar as falhas da obra. Leu os demais livros recomendados e todos os textos, como o Contrato de Supervisão e o Um Tranco do Mestre. Estudou diligentemente cada palavra, cumpre tudo ao pé da letra e procura ser um yôgi exemplar. Este, de fato, não fuma, não bebe, não come carnes, não toma drogas, pratica bastante, estuda em excesso, forma instrutores e é rígido com seus alunos.
O Swásthya Yôga que este tipo de discípulo transmite é tão exigente que corre o risco de ficar distorcido para o outro lado, por excesso.
Ele é antipático com os alunos, arrogante com os outros instrutores e insolente para com o seu Mestre. Tem complexo de superioridade, acha que é melhor do que os demais e pensa que ninguém está percebendo isso. É extremamente orgulhoso, mas nega. Está sempre discordando. Vê defeito em tudo.
Costuma questionar as recomendações do Mestre, sendo grosseiramente franco em um abusivo desrespeito aos princípios de hierarquia. Contesta as normas vigentes (embora cumpra-as zelosamente), dizendo que isto e aquilo não está certo e que as normas estão longe de serem perfeitas. Alguns chegam a dar sugestões fantasiosas e inviáveis para mudar as regras a fim de adaptá-las às suas próprias conveniências oníricas.
Este tipo de discípulo faz cobranças a todo o mundo, inclusive ao próprio Mestre. É tão egocêntrico que ao ler esta descrição, vai pensar que escrevi isto pensando só nele e que esta é uma indireta pessoal. E melindrar-se-á!
É um chato. Seria ótimo tê-lo como discípulo desde que não tivesse que falar com ele jamais. É cansativo, estressante, irritante.

O FALSO DISCÍPULO
Este é um caso mais simples. Ele queria o certificado de instrutor para trabalhar e como o nosso, além de ser o mais respeitado, é o único com validade legal, teve que aceitar as normas. Leu todos os textos atentamente, discordou de tudo, considerou tudo muito radical, um absurdo, mas mentiu declarando que compreendia e que aceitava todas as imposições, só para poder receber o certificado.
Durante o curso, sentiu-se agredido. Ao pedir alguma autorização ao Supervisor, sentiu revolta. Ao receber o kripá, considerou ridículo. Durante o curso, as provas, os congressos, até na correspondência que troca conosco, é sempre um criador de casos. Está sempre engatilhado para pôr defeito, o tempo todo armado contra nós. Costuma tratar mal os secretários e demais pessoas incumbidas de fazer cumprir as ordens superiores.
Ao conversar com outros instrutores e alunos, comporta-se como um instigador, um inimigo infiltrado, tentando o tempo todo semear dúvidas, insatisfações e discórdias em relação ao nosso trabalho, filosofia ou regulamentos.
A maioria dos que constituem este tipo de discípulo é proveniente de outros ramos de yôga, ideologias espiritualistas (como a Rosacruz, Teosofia, Antroposofia, etc.) ou ainda da Macrobiótica, Rajneesh, Hare Krishna, Brahma Kumaris, Ánanda Marga, GFU e outras seitas.
Freqüentemente, esquiva-se às revalidações. Jamais paga corretamente, reclama direitos que não tem, pois não pagou por eles. É agressivo, mal-educado, irracional.
Costuma terminar sendo expulso com desonra.

O DISCÍPULO VOLÚVEL
Ele pensa que é esperto, mas na verdade é um mau-caráter. Usa um Mestre para aprender tudo o que lhe interessar. Depois, troca-o por um outro que não tenha nada para ensinar, mas que seja hindu e, de preferência, famoso, que o mundo todo conheça, pois, assim, quando lhe perguntarem: “quem é o seu Mestre?” poderá responder, orgulhoso, que é Sivánanda, Aurobindo, Mukhtánanda, Satyánanda… Talvez por isso o Código de Ética da International Yôga Teachers Association considere anti-ético declarar-se discípulo de Mestres famosos.
Se o Mestre hindu for falecido é melhor ainda, pois um Mestre morto não pode chamar a atenção do discípulo. Além do mais, se o Mestre estivesse vivo, ele poderia aceitar o estudante ou não. Caso não o aceitasse você não poderia declarar-se discípulo dele. Mas, se o Mestre for falecido, não terá como tornar público que você nunca foi aceito por ele como discípulo!… É muito conveniente.
O discípulo volúvel apresenta uma desculpa para sua atitude censurável. Afirma que o aprendiz deve usar os Mestres como quem sobe uma escada e, portanto, deve ir trocando de Mestres à medida que sobe. “É que já aprendi tudo o que podia com este, agora preciso de um mais avançado”, justifica. Ele usa seu Mestre como um degrau para chegar noutro Mestre, tal como algumas mulheres de caráter duvidoso usam um homem de alguma influência para chegar noutro supostamente mais importante, e assim sucessivamente.
Quando conhecer um instrutor de Yôga que tenha trocado seu Mestre brasileiro por um Mestre hindu, saiba que está diante de uma pessoa que cospe no prato em que comeu. Ele não merece o seu respeito nem a sua confiança.

O DISCÍPULO QUE MATA O MESTRE
Nas Artes Marciais do Oriente há um provérbio que diz: o melhor discípulo é o que vai matar o Mestre. “Matar”, na maior parte das vezes, é simbólico, no sentido de enfrentar, opor-se, medir forças, tentar vencer o Preceptor. Se conseguir, pode matar a carreira profissional dele, ou, pelo menos, comprometê-la.
Tal procedimento destrutivo explica-se. É que, muitas vezes, o melhor pupilo, o mais esforçado, um dia, para mostrar ao seu Mestre que aprendeu tudo muito bem, lamentavelmente quer provar que é melhor que ele. Então, desafia-o. Tudo é uma questão de ego. Esse fenômeno ocorre, não raro, entre filhos e pais, quando os primeiros procuram demonstrar a si mesmos e ao mundo que são melhores que seus genitores. No Yôga isso também ocorre. Felizmente, não é sempre, e não é forçosamente o melhor discípulo que vai aprontar.
Mas o karma não perdoa. Todos os que agiram mal com seus Mestres pagaram caro por isso. A história registra muitos casos célebres. O repúdio dos demais instrutores exclui e isola o traidor. Todos pensam: quem trai seu próprio Mestre, o que não fará com seus colegas? Seus alunos raciocinam da mesma forma e perdem o respeito por ele. Finalmente, vítima do seu orgulho, falta de humildade e de gratidão, termina execrado por todos. Passa a amargar uma carreira que não terá mais o mesmo brilho. Depois não adianta deplorar o sucesso perdido, o qual só teria sido possível caso contasse com o apoio e a recomendação do seu Mestre e de todos os seus colegas, discípulos dele, se não tivesse feito vergonha.

O DISCÍPULO ANTROPÓFAGO
Há um tipo de discípulo que canibaliza o Mestre. Ele não consegue entender que o Mestre não existe para serví-lo. Por isso, acha perfeitamente normal solicitar o Mestre. Geralmente é uma pessoa querida, mas que pede, usa, cobra, faz uma pergunta atrás da outra, escreve cartas maiores do que as boas maneiras permitiriam e, depois, ainda reclama se o Mestre não consegue responder.
É um carente, que precisa de atenção. Por isso, costuma ser afetuoso e simpático. Seria muito gratificante ter uma pessoa assim no nosso círculo de estudos e trabalho, desde que não solicitasse tanta atenção. Até os próprios relacionamentos afetivos e conjugais não resistem e naufragam quando um dos parceiros tem esse defeito de personalidade.
Nossa recomendação veemente para o discípulo antropófago é a de que leia muitas vezes o capítulo que fala sobre a relação Mestre/discípulo na tradição oriental, no livro Faça Yôga, que releia todo o livro Boas Maneiras no Yôga e que assista o vídeo sobre Guru sêva.

O DISCÍPULO QUE NÃO É DE NADA
Também tem aquele que olha meloso, faz declarações de fidelidade eterna, diz que um dia vai começar a lecionar, que vai se dedicar com seriedade à nossa missão, mas… os anos passam e esse discípulo não faz nada. Tudo para ele é difícil. Olha o mundo como se todos lhe fossem superiores. E ele, incompreensivelmente, não consegue enfrentar os desafios que os outros solucionam com tanta naturalidade. Trabalhar com profissionalismo, ensinando somente Yôga, representa uma barreira subjetiva que, não se sabe porquê, ele não supera… Abrir uma Unidade, um Núcleo de Yôga, “agora não dá”, “você pensa que é fácil?”… Participar de um evento constitui um problema: é longe, é caro, é de noite… Organizar um curso na sua cidade é impensável, tamanhas as dificuldades que ele mesmo coloca, comparando sua pequenez com a estatura da promoção…
Passa anos prometendo que quando os filhos crescerem, ou quando se divorciar, ou quando se aposentar, ou, ou, ou… Todos os seus colegas já realizaram alguma coisa importante, mas o discípulo que não é de nada vara os anos suspirando e prometendo que um dia, quando der, fará alguma coisa. E não faz!
A vida passa, os filhos crescem, o divórcio ocorre, a aposentadoria chega, a velhice toma posse e um dia o discípulo que não é de nada morre, obscuro e anônimo, sem ter realizado coisa alguma por si próprio, nem pela Humanidade, nem pelo Yôga.

O DISCÍPULO LEAL AO ENSINAMENTO DO MESTRE
Há dois tipos de discípulo leal: um que é leal às coisas que o Mestre preconiza; outro que é leal ao Mestre. O primeiro defende as idéias do Preceptor, mas não defende o próprio gerador das idéias. Pelos ensinamentos do Mestre é capaz de brigar com os outros e até com o próprio Mestre!
Elegeu o Mentor apenas pela constatação de que aquilo que ele propunha se enquadrava nas suas conveniências. No dia em que o Mestre disser alguma coisa com a qual não concorde, ao invés de adaptar-se e incorporar essa nova ótica, o aprendiz rejeitará o Mestre. Ele usa o Mestre enquanto útil, depois cospe fora.
O discípulo leal apenas aos ensinamentos do Mestre acaba tornando-se seu inimigo. Artrosa-se naquilo que o Mestre ensinara e não consegue evoluir junto com ele. Com o passar dos anos, o Mestre cresce, aperfeiçoa-se e vê o Universo cada vez com mais amplitude e mais clareza. Aí tal discípulo questiona que o Supervisor não está sendo coerente com seus próprios ensinamentos, que está traindo o que sempre pregou, que está enlouquecendo… e vira-lhe as costas, não raro difamando-o e instigando os outros discípulos a que também lhe façam oposição.

O DISCÍPULO LEAL AO MESTRE
Por outro lado, o discípulo leal ao Mestre é fiel, independentemente da mensagem. Não está com o Mestre por concordar com o que ele diz e sim concorda com o que o Mestre diz porque está com ele!
Se o Mestre evolui, esse segundo tipo de discípulo leal evolui junto. Se o Mestre muda, o discípulo muda junto. Confia no Mestre, acata sua ascendência, oferta-lhe um voto de confiança pelos anos de estrada ou simplesmente segue-o por amor, pela satisfação em estar junto.
Se o Mestre pára de ensinar Yôga e passa a ensinar ping-pong, o discípulo leal ao Mestre vai junto, por amor, por confiança, por prazer de permanecer ao seu lado. “Se uma pessoa da estatura do meu Mestre mudou – deduz – é porque já descobriu algo que ainda não compreendi. Então, vou segui-lo, afinal é meu Mestre”.

O DISCÍPULO IDEAL
Ele existe, sim! E, por incrível que pareça, é mesmo a maioria. Alguns dos exemplos anteriores é que são as exceções. Felizmente!
O discípulo ideal é simpático, gosta de colaborar, compreende nossas razões e tem satisfação em cumprir todas as determinações.
Leu todos os textos com uma disposição positiva, compreendeu e não comete erros, pois considera tudo tão simples, claro e óbvio, que ele não entende a confusão que alguns fazem.
Ao ler Um Tranco do Mestre procurou pensar bem se alguma daquelas advertências podia servir para ele. E, honestamente, concluiu que não. Mesmo assim, consultou seu Mestre, só para confirmar!
Paga tudo irrepreensivelmente, quantias corretas nas datas certas. Revalida pontualmente, prepara novos instrutores todos os anos, seus alunos são disciplinados e, pelo olhar deles, percebe-se que gostam da gente.
Comparece a todos os cursos, congressos, festivais, estágios, seminários, convocações. Divulga tudo e traz mais gente, promove cursos e eventos, convida o Mestre para ministrar cursos e nunca deixa a Uni-Yôga de fora quando realiza algo.
Não mistura Yôga com nenhuma outra disciplina, arte, ciência ou filosofia. Não participa de cursos apócrifos. Não freqüenta instituições concorrentes. Não confraterniza com nossos detratores. É leal, disciplinado, amoroso e ético.
Consulta sempre o seu Mestre. Dá sugestões, mas sem críticas nem cobranças. Quer servir e ajudar. Por outro lado, aceita críticas sem se ofender, e até mesmo as pede. Aliás, não se ofende nunca, uma vez que o amor em seu coração pelo Mestre é tanto que não sobra lugar para suscetibilidades.
Pela frente, trata o Mestre com carinho; por trás, defende-o com lealdade. Para este, está tudo certo e perfeito: os cursos, as revalidações, a supervisão, o Swásthya, a Uni-Yôga, até mesmo as guinadas do Mestre.
Reencontrá-lo é sempre uma festa, conversar com ele, uma descontração. É uma pessoa que queremos como nosso amigo pessoal.
Ao ler esta descrição ele se identifica, reconhece o seu valor e fica feliz por saber que nós o valorizamos pelo que ele é.

MESTRE & DISCÍPULO – do livro YÔGA: MITOS E VERDADES escrito pelo Mestre DeRose.
Jonery Henrique dos Santos – www.yobukan.com.br
Professor de Educação Física – CREF 00937-G/PR
Pós-Graduado em Ciência da Musculação e da Preparação Física

YobukanOss