Kumite

Kumi = encontro e Te = mãos

O Kumite (luta) significa combate com um “adversário”, aplicação de ataques e defesas, sejam combinados, semi-combinados ou livres.

A luta começa sempre com uma saudação, com respeito e agradecimento pela oportunidade em ter o companheiro para treinar.
Os velhos mestre sempre disseram: “Treine kihon (fundamento) e kata (forma) que o kumite sai”. Isso quer dizer que não se desenvolve o kumite só praticando a luta em si e que o praticante deve treinar o kihon e o kata mais do que o kumite, e com isso estará sempre aprimorando a luta.
Existem muitas formas de kumite que segue também um processo pedagógico e nele se aplica os golpes e defesas como se estivesse sozinho praticando o kihon. Tudo é questão de adaptar os principais fatores que influenciam na luta: 1°- distância; 2°- direção e ângulo dos golpes; 3°- explorar o “branco” que dá no adversário e manter-se alerta o tempo todo; 4°- conforme o adversário usar o tempo de defesa e contra golpe ideal, tudo isso de acordo com a faixa em que se está. No kumite é quando mais se pratica o aprimoramento do Ki (espírito), Shin (mente – coração) e Tai (corpo).
Quando o praticante recebe um golpe desleal ou “sem querer” e não entra na do outro, está começando a dominar-se e somente dominando a si mesmo é que poderá dominar o outro. Se reagir entrando na do outro quer dizer que o outro o está dominando. Enfim é simples mas não é fácil praticar isso. Alguns conseguem numa determinada faixa e outros passam a vida toda sem conseguir.
Existem vários tipos de Kumite e abaixo estão os que mais utilizamos:
Gohon-Kumite, Sanbon-Kumite e Ippon-Kumite = basicamente são combinados;
Jyu-Ippon-Kumite = basicamente é semi-combinado;
Jyu-Kumite = é livre;
Shiai-Kumite = é de competição.

Kihon-Gohon-Kumite: (5 ataques e 5 defesas com 1 contra-ataque)
Cinco ataques e defesas, 2 a 2, em cinco passos (pré-estipulados).
Quem ataca (tori) tira uma medida jodan (nível alto), chudan (nível médio) ou gedan (nível baixo) em pé e recua a perna direita ficando em gedan-barai de esquerda na base zenkutsu-dachi e quem defende (uke) fica em pé inicialmente. O atacante avança diretamente para o alvo com oizuki de direita. Quem defende o faz recuando primeiro a perna direita ficando em zenkutsu-dachi defendendo com o antebraço esquerdo e após a quinta defesa aplica um contra-ataque com gyaku-zuki de direita. Os deslocamentos são em linha e o praticante deve usar kime (contração isométrica), olhar para a frente e no último golpe gritar (kiai). Este tipo de kumite não exige técnicas avançadas e é utilizado pelos 9° e 8° kyus. Serve para se obter base, kime, deslocamento, noção de distância etc…

Kihon-Sanbon-Kumite: (3 ataques e 3 defesas com 1 contra-ataque)
Três ataques e defesas, 2 a 2, em três passos (pré-estipulados).
É idêntico ao gohon só que é feito em 3 passadas e é usado pelos 7° kyus.

Kihon-Ippon-Kumite: (1 ataque e 1 defesa com contra-ataque)
Um ataque e defesa, 2 a 2, em apenas um passo (pré-estipulado).
Posturas iniciais idênticas aos anteriores. O defensor se desloca para trás e para o lado, saindo da linha do atacante que não pode seguir o alvo. Procurar aplicar o contra-ataque sempre chudan. Lembrar sempre do grito (kiai) no ataque e no contra-ataque. Faz o ataque primeiro com a direita e em seguida com a esquerda.

Jyu-Ippon-Kumite: (semi-combinado)
Um ataque e defesa, 2 a 2, mais ou menos livre, avisa-se a região do corpo onde será desferido o golpe e/ou o tipo de golpe que será aplicado.
É um dos mais difíceis treinamentos de karate, mais difícil até que o jyu-kumite (livre). Apesar de ser semi-combinado é de uma complexidade muito grande. Se o praticante se aprimorar nesse treinamento se sairá bem em luta. Ambos os praticantes na base livre (jyu-kamae). O mais novo, de acordo com a faixa na cintura, ataca antes. Avisa a altura e o tipo de golpe que irá aplicar. Se o professor não pedir o kihon-jyu-ippon-kumite que é de acordo com a forma feita nos exames de faixas, os ataques e as defesas poderão ser livres e o professor orientará como ele quer, se será 1 ataque de direita e outro de esquerda; se será somente 1 ataque jodan sem estipular se é oizuki ou gyaku-zuki ou kizami-zuki; se poderá aplicar ashi-barai ou finta; se poderá aplicar qualquer tempo de contra-ataque; enfim podem ser feitas muitas variações de acordo com a necessidade do treinamento onde pode-se usar o jyu-nihon-kumite, jyu-sanbon-kumite etc…

Jyu Kumite: (combate livre)
É um combate livre e pode ser dividido em várias formas: com força, sem força (sombra), em câmera lenta ou sem força mas com velocidade etc… Após a saudação os praticantes iniciam o combate livremente, tentando encaixar os golpes. O combate poderá ser orientado para técnicas de pernas (ashi-waza) ou técnicas de braços (te-waza); um ser o atacante (tori-waza) e o outro usar o contra ataque sendo somente o defensor (uke-waza); um fazendo o ataque lento para o outro fazer os movimentos rápidos e se antecipar ao ataque (deai); enfim, quanto menos forte mais corretas deverão ser as técnicas e sempre controladas, podendo encostar os golpes no chudan e nunca no jodan. Quanto menos treinado estiver o praticante, mais longe do alvo deverá parar os golpes.

Shiai-Kumite: (luta de competição)
É uma luta pela conquista de pontos, onde tem as técnicas permitidas de acordo com as normas de cada federação. É estritamente proibido acertar o oponente, cabendo ao atleta aplicar com precisão somente os golpes considerados pontos que serão avaliados pelos árbitros.
A competição deve servir para o praticante desenvolver o respeito e disciplinar-se física e mentalmente. Numa competição aberta o praticante disputará com alunos de diferentes estilos, terá que dominar-se mais, sendo diferente da competição interna em seu dojo onde todos se conhecem. Lembrando que a competição existe sempre, quer seja dentro de você num treino individual ou entre você e outro numa dupla, mesmo sendo num fundamento ou numa luta no dojo, ou ainda por pontos num campeonato.
Como o karate é uma arte marcial, a competição esportiva é utilizada para o desenvolvimento do praticante e como meio motivacional para que treinem mais.
Cada federação esportiva tem regras diferentes e o praticante que treinar os princípios do verdadeiro karate nunca terá problemas para se adaptar as regras e técnicas exigidas para pontuar na federação em que for participar.
Observação: Os protetores que são usados em competições ou treinos, não são para que o carateca bata mais e sim para que ele anule os impactos e arrisque mais, sem medo de machucar a si ou ao companheiro. Em disputas com atletas de outros tipos de lutas como o boxe, o carateca não poderia usar luvas, elas anulariam os seus golpes, pois no karate não empurramos os golpes e sim os aplicamos com uma penetração pequena e puxamos os punhos, pés etc. de volta para a guarda. Nesse exemplo, do karate e do boxe, numa luta por nocaute, os dois atletas teriam que não usar luvas para avaliarmos a eficácia dos golpes.

Me-Narashi: (sem força)
É um combate livre, sem força, também chamado de “kumite sombra” podendo ser acelerado ou em câmera lenta, de acordo com o objetivo do treino. É nele que se aprende a executar as técnicas corretamente, sem o medo de se machucar. Pode ser utilizado para o aprimoramento tanto do jyu-kumite quanto do shiai-kumite.

Texto: KARATE SHOTOKAN – KUMITE
Autor: Jonery Henrique dos Santos – www.yobukan.com.br
Professor de Educação Física – CREF 00937-G/PR
Pós-Graduado em Ciência da Musculação e da Preparação Física

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